Ainda bem que a minha mãe morreu, diz a Jennette McCurdy
Prepara-te, este livro é necessário…mas dói muito!
Como é que cheguei a este livro? Foi daquelas coisas, foi aparecendo em listas de livros para ler. Um dia, subscrevi ao Kobo Plus, por causa de outro livro. Li esse outro livro. Usei a subscrição para ver o que havia gratuito e lá apareceu este.
Nem é tarde nem é cedo - já vi esta capa tantas vezes, vou lê-lo agora.
Olhei para a capa. Não li a sinopse ou a contracapa. Suspeitava que seriam crónicas de uma comediante.
Era uma autobiografia, não eram crónicas. E eu não estava preparada para o que ia acontecer.
Sinopse: Em Ainda Bem que a Minha Mãe Morreu, Jennette narra tudo em detalhe - e conta o que aconteceu quando o sonho se realizou. Ao integrar o elenco de iCarly, uma série da Nickelodeon, é projetada para a fama. Enquanto a mãe anda nas nuvens, Jennette mergulha numa espiral de ansiedade e falta de amor próprio, que se manifesta em distúrbios alimentares, vícios e relações tóxicas.
Este livro foi uma viagem à escuridão das crianças que se tornam celebridades
Comecei a ficar surpresa com o que estava a ler e depois fiz a viagem. Vi logo os problemas que a atitude da mãe trazia, o que quer dizer que tive melhores pais que a Jennette.
A Jennette é uma “child star”, uma criança actriz. Eu própria vi o Disney Channel em pequena (mas não cresci com a Hannah Montana/Miley Cyrus), então conheço o mundo da televisão. Mas claramente este é um outro nível (não quero dar muitos spoilers. Ela vai falar do ambiente que é gravar uma série de televisão e tentar parecer 12 anos para sempre).
O inferno dos vícios e da ansiedade é algo que passa anos após anos, e vemos mesmo o quão difícil é sair desse buraco, porque não é um ou dois capítulos, são centenas de páginas. Mesmo depois da mãe falecer, o caminho da reabilitação é doloroso, cheio de progressos e deslizes, aqui e ali.
O que mais impressionou é que isto não aconteceu há 40 anos atrás - foi ontem.
A Jennette tem a minha idade. Quando ela tinha 11 anos e aconteceu isto, eu tinha esses 11 anos. Ela estava a gravar um episódio num estúdio em Los Angeles, eu passava os dias na escola. Eu poderia ser a Jennette. É possível ver os seus vídeos no YouTube, ler o livro, olhar para trás e perceber: aqui estavas a ter ataques de pânico todas as semanas. O lado dos bastidores da televisão é assustador.
É também impressionante a relação paradoxa que se pode ter com uma mãe. Odeia, mas ama. Está melhor sem ela, mas sente saudades. Queres fazer tudo diferente, mas tens coisas iguais. A Jennette fala da mãe com distância, o que pode ser chocante para algumas pessoas que têm relações próximas com as suas mães. Infelizmente, não há mães que têm o amor de mães, o que torna a história ainda mais poderosa.
Ao longo do livro, queria que parasse. Que finalmente o inferno terminasse e ela não escrevesse o quão mal estava.
Que algum adulto acordasse e a salvasse daquela vida horrível. Que alguém se preocupasse. Queria que ela ficasse bem.
O que queria dar à Jennette era um forte abraço e dizer que a culpa não era dela (estilo Good Will Hunting). Os adultos é que deveriam ter-se portado melhor contigo.
Li este livro em 2 dias, em férias. Não consegui largar o e-book. Lia e lia, cada vez mais incrédula de como é que se deixa uma criança trabalhar para sustentar a família, proibida de comer. E queria chegar ao fim para saber quando é que ela finalmente enfrentava os seus demónios. O livro é a dura batalha de sair de uma relação tóxica e abusiva, e como o trauma demora muito esforço para deixar de nos afectar a vida. O trauma vai ter de viver connosco, mas nós conseguimos pô-lo numa caixa e começar uma nova vida.
É um murro no estômago, o que faz com que seja ainda mais importante lê-lo. Recomendo? Sim, recomendo. Mas aviso à navegação: é preciso que estejas bem resolvido contigo mesmo.